Demorei alguns minutos pra assimilar o que aconteceu na noite passada, mas assim que meus olhos abriram, senti que algo havia mudado. Será mesmo que eu tinha recebido aquele sms do Rafael pedindo desculpas por estar a tanto tempo longe? Será mesmo que não havia sido um sonho?
Numa tentativa frustrada, apalpei o bidê apalpando meu celular e só encontrei-o enrolado em meio às cobertas. Era agora ou nunca. A hora ‘H’. Clico em mensagens e conto até 3 para abrir a caixa de entrada: lá estava a mensagem dele, com a cartinha quase pulando pra fora querendo dizer ‘’ei, é verdade, estou aqui. Leia-me novamente para eu ver esse sorriso.’’
Céus, esse guri mexia tanto comigo e eu não sabia dizer ao certo o porquê. Só pode ser aquela historia de amores mal resolvidos, sabe, que eles ficam te atormentando até que tudo seja concertado.
A gente tem essa sina de precisar ter a confirmação: do começo, do meio e principalmente do fim. Gostamos e precisamos ouvir ‘’acabou’’ soletrado e bem alto e ainda pedimos mais, pedimos a sinceridade de um ‘’não gosto mais de você’’. Mas e quando esse script muda? E quando o término vem com o silencio, olhares perdidos, cabeça baixa e caminhos diferentes?
Eu chegava a pensar o quanto ele sentiu minha falta, será que ele tava pensando em mim. Eu pensava. Não que eu pensasse nele o dia inteiro mas ele sempre vinha em alguma hora do meu dia me dar um ‘oi, ainda estou aqui, dentro de você’..tanto quando eu lavava os cabelos e lembrava que ele dizia que o meu cheiro natural era melhor do que qualquer shampoo e condicionador bafônico no mundo; seja quando passava um carro de cor estranha e eu lembrava que ele dizia que a melhor cor pra um carro meu seria um verde caganeira. Talvez a convivência tivesse deixado um pouquinho dele em tudo que eu fazia.
Tinha dias que o choro se recusava em sair, que eu sonhava com seu sorriso e abraços tão presentes. A minha vontade de voltar e deixar o orgulho de lado era tão grande, mas aí eu lembrava que ele não era mais o mesmo, que ele era de outra e que o Rafael que eu conheci dera lugar a outro homem com ‘qualidades’ que eu desconhecia.
Fui procurar um lugar pra almoçar. Passei pela praça principal. Me escorei numa árvore. Coincidência ou não, era a nossa árvore. REMPS (Rafael e Manu para sempre), escrito com canivete no tronco. Quanta tolice.
Nesse momento me assusto com alguém que chega por trás e me dá um abraço caloroso. Eu senti falta desse abraço. Sabia que era ele
- Idiota, você sempre me assusta!
- E você sempre cai – risos- sabia que você ia passar por aqui logo que acordasse. Estava com saudades. Vim te ver. – silêncio- então, me conta o quão ruim tem sido tua vida sem mim – ele me provoca enquanto me puxa pra sentar no banco ao lado da nossa árvore.
- Para o seu governo, estou me divertindo muito. Não é isso que todos dizem que é pra os solteiros fazer? Pois bem, só estou obedecendo.
- Acho que ainda te conheço um pouco e não consigo acreditar nisso...
- Credo, tu é sempre tão convencido. Afe.
- É porque achei que a tua vida, Manu, tivesse sido tão horrível quanto a minha.
Ele sempre dava um jeito de me deixar sem graça e sem palavras.
- Rafa, é que...
- Ei – ele me interrompe- sei que tu tem toda a razão de me odiar e me achar o cara mais ordinário do mundo, porque realmente eu fui, querendo provar pra todo mundo que não precisava de menina nenhuma pra ser feliz. E não precisava mesmo. Precisava de mulher. Ou melhor. De você. Eu só precisava me conhecer de novo.
- você parecia muito bem declarando amor pra tua namoradinha.
Ele suspira, dá um sorriso, e pega no meu queixo.
- Você é muito tola mesmo. Meu namoro não tinha nada de perfeito. Eu gosto de pessoas imperfeitas. Na verdade, gosto das tuas imperfeições. E não entendi porque não conseguia ser feliz com ela..por que só pensava em ti.
- Rafa, é porque é impossível seguir em frente quando a outra página ainda não recebeu um ponto final.
Ele me encara e logo questiona
- E você quer dar um ponto final ou prefere acabar essa história da melhor maneira?
- Eu..eu..
Nos beijamos.