Sendo mais específica, nos encontramos no balcão onde é pedido os drinks. O mesmo bar que era nosso e agora é meu...meu e dele, pelo jeito. Lembro-me bem, fomos lá pela primeira vez em uma quarta, onde ele dispensou um futebol com os amigos e eu uma baladinha básica. Foi a melhor caipira que eu tomei na vida. Na verdade, não sei se a caipira era boa ou aquele dia foi tão especial que tudo que aconteceu era perfeito. Foi o encontro marco para a gente. Depois disso viajamos juntos e assumimos compromisso, e lá se tornou nosso ponto de encontro, acabávamos a noite sempre lá, no bar da caipirinha. Desde o nosso término, a alguns meses atrás, eu sinto seu perfume mesmo sem te enxergar, e odiava o fato de fechar os olhos e imagina-lo com o sorriso largo, de braços abertos, esperando um beijo. Eu não queria mais pensar em ti, muito menos sentir o melhor cheiro do mundo, que era o teu perfume...Mas foi ai que toda a cidade, parece, que resolveu usá-lo: meu tio, meu vizinho, meu chefe, o dono na pizzaria, o garçom, o padeiro, o atendente da loja. Mas dessa fez eu tive a certeza que não era engano, fechei os olhos e a imagem que eu sempre ''via'' foi interrompida por uma voz conhecida fazendo o mesmo pedido de sempre:
- Uma caipirinha no capricho, com muito gelo e bem forte, por favor!
Foi quando borboletas pareciam que voavam no meu estômago - esse fato não acontecia desde a primeira vez que eu o vi -. Eu queria que fosse ele, juro! Queria vê-lo novamente, mas não tinha certeza de que estava preparada pra te olhar nos olhos e sentir minhas mãos suarem e minha fala sair trêmula...isso quando eu penso em alguma coisa pra te falar, porque contigo eu não penso em mais nada. Matutei bilhões de bobagens e desculpas possíveis, planejei alguns - muitos- planos de fugir dali sem que fosse percebida. Mas quando menos espero, uma cutucada no meu ombro direito vem acompanhada de um ''Oi!''. Respirei fundo. Cotei até dez. Poxa, avia passado meses ensaiando coisas para dizer quando tivesse encarando-o, planejava até o jeito de sorrir e o ângulo em que a frase dita cairia melhor. Entretanto, tudo isso parecia ter desaparecido da minha mente, é como se toda a responsa agora fosse com o coração e a razão tivesse tirado aqueles minutos de férias. Era momento de eu me virar, azar.
- Oi, quanto tempo né!?
Caracas, eu poderia ter dito qualquer coisa. Sobre política, até sobre o final de ano mesmo. Mas fui obrigada a dizer uma frase clichê, referindo-se a quanto tempo tinha passado e nada entre a gente tinha mudado. Eu mudei. Ele mudou. Mas quando se tratava de nós dois juntos, parecia ser diferente.
- Pois é, faz algum tempo mesmo. Você está linda! Seu cabelo ficou ótimo com luzes. Está ótima!
(ele deu um sorriso, que por alguns segundos fez com que meu mundo parasse...)
Não eram luzes, eram mechas australianas. Ótima?Isso era o que minhas professoras colocavam na minha prova na quarta série. Estava tudo, menos ótima, tava na cara.
- Obrigada! - foi a única coisa que eu consegui falar. Agradeci e não sou mais o que dizer, nem como agir. Não quis encompridar assunto, porque a continuação, se dependesse de mim, era como e porque a gente (não) tinha acabado. Queria perguntar sobre a minha sogra...Opa, minha ex sogra...Melhor dizendo, sua mãe. Queria saber se seu irmão passou de ano, e o que queria de presente de natal. E o trabalho, como iria? Antes mesmo que eu concluísse os meus itens de perguntas mentais ele me interrompeu.
- Preciso ir, esta caipirinha acabou comigo. (risos) Foi ótimo vê-la de novo e saber que está bem. Parece que nada mudou, aliás, continuo com o mesmo número, então, sabe o que fazer se quiser alguma companhia num dia chato.
Sinceramente, parte de mim pulava de felicidade e queria logo aceitar aquele convite, porque minha vida andava chata e sem nenhum companhia a meses. Outra parte, andava com ele em direção a fila do caixa do barzinho, e esta parte, queria colocar em prática tudo que aprendi nesses últimos tempos na aula de boxe. ''Ele age como se eu nunca tivesse visto suas fotos festando com aquela piriguete do 301'' foi meu pensamento rápido. E nenhum telefonema bêbado, isso que é o pior.
- Ah, lembro seu número sim. Talvez eu ligue mesmo, obrigada! Boas festas, eu sei que tu não gosta muito disso mas... (sei uma risadinha pra não acabar a frase dizendo ''mas eu posso estar contigo fazendo tuas festas melhorarem.)
Claro que eu não ia ligar coisíssima nenhuma. Na verdade, nem tenho mais o número. Talvez eu saiba de cor...Ta, ok, não dá pra mentir. Eu sei sim o número dele de cor e salteado, de tras pra frente. Mas o que eu queria mesmo era acabar aquela conversa ali.
- Ah sim, feliz ano novo! Espero te ver mais vezes ano que vem. Vou passar a virada jogando um play e tomando um trago com os guris, meus pais vão viajar e só sobrou as parcerias na cidade. Te cuida.
Eu não tinha muita ideia do que estava acontecendo ali, logo no lugar onde tudo começou, mas quando completaste a frase, tive certeza que nada tinha mudado. Eram palavras, eram os seus amigos, as suas histórias, a sua bebida, a sua vidinha. Era isso que eu mais odiava em você, o seu egocentrismo e pelo jeito ainda continuo odiando. Vi você entregando a comanda e se aproximando da saída e escutei o menino do caixa dizendo:
- São 37 reais, moça!